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Durante os últimos meses, a PSP tem feito rusgas policiais abusivas em diferentes espaços e iniciativas queer e/ou independentes de Lisboa.Só em uma das associações culturais vitimadas por tais operações, o Planeta Manas, foram quatro rusgas em cinco meses desde Outubro: todas sem mandado, sem jurisdição e sem aviso prévio, que só serviram para encerrar os eventos, impedir o direito associativo dos membros e precarizar ainda mais o trabalho já precarizado de artistas trans, queer, imigrantes, profissionais independentes da cultura.A regra é clara: pra polícia entrar em uma Associação Cultural, precisa de mandado. Pois a PSP forçou a entrada e desrespeitou quatro normativas e leis portuguesas, da Constituição à Lei de Segurança Interna. Contudo, o Ministério da Administração Interna diz que não há ilegalidade, e a própria PSP admitiu para a imprensa que tem o objetivo de encerrar o espaço.Nada disso é por acaso: essa perseguição está em consonância com o aumento exponencial da violência policial e do fascismo, tanto em Portugal, como na Europa, como em todo o mundo.Cá em Lisboa, além da perseguição contra nós, imigrantes em regiões como Martim Moniz, Massamá e Queluz têm sido constantemente empurrados à parede pela PSP em operações de propaganda. Também não esquecemos, e jamais esqueceremos, de Odair Moniz, homem negro assassinado pela polícia em Outubro do ano passado.Em Espanha, homens gays têm sido perseguidos por policiais em aplicativos de encontro, em uma suposta “operação anti-drogas”. Na Alemanha, Reino Unido e Holanda, manifestantes pró-Palestina (inclusive mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência) têm sido brutalmente agredidos, intimidados, deportados e presos. Na Sérvia, armas sónicas ilegais foram utilizadas pela polícia em protestos pacíficos. Nos EUA, então, nem se fala… a polícia tem feito deportações em massa de imigrantes, perseguido ativistas, impedido a entrada de pessoas críticas ao governo Trump nos aeroportos, além da infame prisão do ativista Mohamed Khalil pela sua participação nos protestos contrários ao genocídio Palestino.Polícia cá, polícia lá, polícia em todo lado.Os senhores e senhoras a andar pela calçada podem se perguntar: "e o que é que eu tenho a ver com isto?”Bem, o primeiro sintoma do fascismo é o aumento da repressão policial, que muitas vezes vem disfarçada de “fortalecimento da segurança pública” na narrativa distorcida de governantes cada vez mais voltados aos interesses das elites, e que transformam em inimigos os cidadãos mais pobres e oprimidos. Mesmo a ocupar o sexto lugar como país mais seguro do mundo, Portugal fica menos seguro pelas mãos do próprio Estado, que faz um alarmismo sensacionalista para justificar campanhas arbitrárias como “Portugal Sempre Seguro”, baseada em rusgas policiais contínuas e inúteis, que só servem para propagandear ideais fascistas e aterrorizar cidadãos vulneráveis.De fato, as primeiras vítimas do fascismo, historicamente, são as populações e comunidades mais vulneráveis: imigrantes, pessoas racializadas, pessoas LGBTQIA+ / queer, espaços culturais independentes.Por exemplo: uma das primeiras queima de livros da alemanha nazista foi em uma biblioteca sobre gênero e sexualidade… e a primeira ação do governo Trump nos EUA este ano foi a de revogar o direito de pessoas trans a ter o próprio género em seus documentos. O primeiro discurso do Trump nos EUA foi uma declaração de guerra contra as políticas de Diversidade e Inclusão em empresas e instituições.Aqui em Portugal, a primeira década do Estado Novo foi marcada pela perseguição a homossexuais pela PSP, nomeadamente pela sua Secção de Costumes, que efetuava a detenção de pessoas LGBT em “flagrante delito”. Hoje, o partido de direita que mais cresce em Portugal diz que nossa existência é “normalização da pedofilia”.É isso que as pessoas mais poderosas do mundo têm feito: acusações de virar o estômago, saudações nazistas, fortalecido discursos de ódio, normalizado genocídios, desumanizado populações inteiras, estruturado máquinas de fake news, criminalizado ativistas, e colocado nós, o povo, pessoas comuns, uns contra os outros - enquanto acumulam riquezas obscenas e retiram nossos direitos. Você acha mesmo que não vai chegar à sua porta?Se parece que a repressão só chega em pessoas como nós, a história já demonstrou que somos a ponta de um iceberg muito maior. Já vimos esse filme. Está a repassar em todo lado.Uma hora o fascismo chega pra todos: seus filhos, pais, irmãos, amigos, vizinhos, colegas de trabalho. Se você não faz parte da elite, do 1%, do clube de bilionários e multimilionários do Elon Musk, uma hora CHEGA! em você também. É isso que o CHEGA! quer dizer.A polícia não existe para proteger você, ela existe para proteger as propriedades das elites. Ela existe para criminalizar uma suposta “marginalidade” e combater “falsos inimigos”, para que os verdadeiros inimigos continuem a criar a narrativa de que são os heróis.Não é a nós que a polícia tem que combater.Nós não somos o inimigo.Lesbicas, gays, bissexuais, pansexuais, travestis e mulheres trans, pessoas transmasculinas, pessoas nao binárias, pessoas intersexo, pessoas assexuais, não sao suas inimigas.Nossos pronomes, corpos, sexualidades e expressões culturais não são seus inimigos.Imigrantes não são seus inimigos.Pessoas pretas, árabes, latinas, asiáticas, não são suas inimigas.O carnaval não é inimigo da cidade.Nós não somos o motivo que você não consegue pagar sua renda, comprar seus mantimentos, ter um aumento, descansar depois de uma jornada exaustiva de trabalho.O inimigo é quem diz que somos seus inimigos.É quem controla o jornal que você lê, o programa que você assiste, o algoritmo da sua rede social que só mostra fake news e inverdades sobre nós.Os inimigos são bilionários. Pessoas muito mais ricas que você.“Ah mas eu tenho boa renda, propriedades, pequenas empresas… isso não deve me afetar”Olha, trago verdades: ainda estás muito mais próximo de nós do que deles. São eles que controlam, cada vez mais, a narrativa. As instituições, os espaços religiosos, a mídia, as novas tecnologias, os espaços de poder, os governos. Se você não faz parte desta elite, este protesto também interessa a você.Precisamos de um novo 25 de Abril, dessa vez antecipado, para não correr o risco de entrar em um novo Estado Novo. A revolução interessa a todos nós.E sim, o 25 de Abril de hoje também é queer.No carnaval de Torres Vedras deste ano, fizeram uma sátira sobre pessoas queer e o 25 de Abril. Haviam bonecos dos capitães de Abril, como Salgueiro Maia e o general Spínola, que observam um exército de soldados queer com um olhar de reprovação.“Se o 25 de Abril fosse hoje, como é que iríamos fazer a revolução com esta tropa?“, questionam.A "brincadeira" sugere que estes heróis da democracia questionaram a capacidade de uma tropa composta por pessoas queer LGBTQIA+ em concretizar a revolução.Pra eles a gente responde: é essa tropa sim!Porque questionar a opressão do próprio corpo é o primeiro passo para questionar todo o resto.Questionar normas e hierarquias de sexo, gênero, cor de pele, etnia, aparência… são as bases para um projeto anticapitalista de fato interseccional, interconectado com as questões de classe e trabalho, adaptado à realidade de todas as pessoas.São as bases para quebrar todas as correntes.A hierarquia do corpo, do gênero e da sexualidade é o pilar mais profundo do projeto fascista, predatório e neocolonial ao nosso redor.Então, quando o nosso corpo dança, beija, ama, festeja, rebola o cu e faz da rua um carnaval - pode parecer que é só festa, mas também é política: é o jeito que encontramos de desviar dessa hierarquia que nos persegue todos os dias!Então sim: o novo 25 de abril é queer,
feminista,
antirracista,
antifascista,
antisionista,
anticapitalista,
festivo,
fervido,
e pelo corpo livre!Pelos trabalhadores, pela cultura, pela diversidade humana, pelo direito à festa, ao afeto, ao sexo, pelo bem-viver de TODES.Porque a polícia anda em linha reta, marcha e enquadra.Mas a gente faz a curva, dança e desvia.Nosso corpo é político!Nossa alegria é resistência!

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